Cresce a participação da educação a distância entre
o total de bolsas do Prouni para futuros professores
Movimento Todos Pela Educação critica concentração de alunos em cursos
de baixa qualidade. 'Não se forma um bom professor em curso teórico e a
distância', diz especialista.
Por Elida Oliveira,
G1
15/10/2019 06h00 Atualizado há 7 horas
Bolsas do Prouni para formação de professores crescem 53% em oito anos
Os futuros professores do Brasil estão recorrendo cada vez mais a bolsas
de estudo para a formação a distância para conseguirem se tornar docentes. Em
oito anos, cresceu 53% o total de bolsas concedidas pelo Programa Universidade
para Todos (Prouni) para calouros de cursos voltados à
docência, como pedagogia e outras licenciaturas (veja a
lista abaixo).
O índice é puxado principalmente pela educação a distância (EAD), opção
de 67% dos calouros destas áreas, em 2018. No
entanto, a maior parte destes alunos (58,5%) está em
cursos com baixo índice de avaliação.
Os dados fazem parte do relatório “Expansão do Prouni EAD na Formação
Inicial do Docente”, feito pelo Movimento Todos pela Educação com dados do
governo, e divulgado com exclusividade pelo G1 e GloboNews
nesta terça-feira (15).
O Prouni foi criado em 2004 para dar bolsas de
estudos a estudantes de graduação em instituições privadas de ensino superior.
Já outra modalidade de apoio mantida pelo MEC, o Financiamento
Estudantil (Fies), tem caído no mesmo período. Ele oferece
financiamento das mensalidades, mediante juros, e é voltado a cursos
presenciais.
"O ato de ensinar precisa de observações reais, de práticas de
ensino, de discussões sobre como ensinar. Não se forma um bom professor em
curso teórico e a distância. Em relação às bolsas do Prouni, é fundamental que
elas sejam voltadas a cursos presenciais e de alta qualidade", afirma
Gabriel Corrêa, gerente de políticas educacionais do Todos pela Educação.
Procurado, o Ministério da Educação (MEC) afirmou que a lei do Prouni obriga a
instituição de ensino a "conceder bolsas em todos os seus
cursos/turnos" e, como houve expansão nas vagas de EAD, "isso se
reflete no Prouni".
Além disso, a pasta lembrou que os resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
(Enade) de 2018 mostram que "não houve queda na
qualidade da educação nos cursos de Ensino a Distância" (leia a íntegra da nota no fim da reportagem).
Na edição de 2018 do Enade, só 3,3% dos cursos de faculdades privadas conseguiram
atingir o conceito máximo.
Considerando todos os 8.520 cursos, menos de 6% destes cursos tiveram
conceito 5, percentual semelhante ao registrado nos cursos avaliados em 2017.
Estudante universitário estudo lápis caderno escola universidade — Foto:
Green Chameleon/Unsplash
Ajuda financeira a futuros professores
Em 2018, 16,2% dos bolsistas do Prouni eram de cursos voltados à
formação de professores, o que representa 26,9 mil bolsas -- 53% a mais do que
em 2010, quando eram 17,6 mil.
Os cursos voltados à carreira docente são:
·
artes
·
ciências/biologia
·
educação física
·
ensino religioso
·
filosofia
·
física
·
geografia
·
história
·
língua estrangeira
·
língua portuguesa
·
matemática
·
pedagogia
·
química
·
sociologia
Infográfico mostra a evolução no número de alunos com bolsa Prouni em
cursos voltados à docência, de 2010 a 2018 — Foto: Elida Oliveira/G1
Já entre os financiados pelo Fies, 3,4% dos universitários que queriam
se tornar professores recorreram a esta modalidade em 2018, ou 2 mil pessoas.
De 2010 a 2013, o financiamento via Fies vinha crescendo em relação ao
Prouni, mas a partir desta data, os números mostram o crescimento maior entre
as bolsas de estudo em detrimento dos financiamentos de mensalidades.
Gráfico mostra a evolução dos financiamentos
nas modalidades Fies e Prouni em cursos voltados à docência, de 2010 a 2018 —
Foto: Elida Oliveira/G1
Ensino a distância para quem vai ensinar
A
formação a distância foi a opção de 67% dos bolsistas do Prouni em cursos voltados
à docência, em 2018: havia 17.992 bolsistas na formação
EAD contra 8.986 bolsistas do Prouni nos cursos presenciais. O
índice era de 61% em 2017. Nos demais cursos, a EAD foi a opção
de 25% dos bolsistas.
Infográfico mostra a evolução dos bolsistas do
Prouni em cursos de docência na modalidade a distância e em cursos presenciais
— Foto: Elida Oliveira/G1
Cursos com baixo índice de avaliação
De acordo com os dados do
Todos pela Educação, mais da metade dos calouros com bolsas do Prouni voltadas
à docência estão matriculados em cursos com baixo índice de avaliação.
A qualidade do ensino superior no país é medida pelo
Conceito Preliminar de Curso (CPC), calculado pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC. As notas vão de 1 a 5. Quanto
melhor o curso, mais alta a nota.
Os dados mostram que 58,5% dos estudantes que ingressaram
na carreira docente com bolsa do Prouni em 2018 se matricularam em um curso com
nota igual ou inferior a 3. Na modalidade a distância, o índice é de 43,6%.
"Isso mostra que a expansão da EAD está ligada ao
Prouni, que deveria financiar cursos com boa avaliação e presenciais",
afirma Corrêa.
Infográfico mostra a porcentagem de bolsistas
do Prouni em cursos de graduação, conforme a avaliação do MEC — Foto: Elida
Oliveira/G1
Expansão da EAD no ensino superior
O número de vagas ofertadas
pelo ensino superior a distância superou em 2018, pela primeira vez, o número
de oportunidades em cursos presenciais. No ano passado, foram 7.170.567 vagas
remotas contra 6.358.534 vagas locais, respectivamente. O dado é do Censo do
Ensino Superior, divulgado em setembro pelo MEC.
Apesar disso, a rede presencial ainda recebeu mais alunos
novos, em 2018, que a rede a distância. Segundo o censo, foram 2.072.614
matrículas em vagas presenciais (28,9% do total ofertado), e 1.373.321 nas
vagas à distância (21,5% do total ofertado).
Financiamento em outros cursos
As bolsas do Prouni para
calouros em outros cursos, que não são voltados à docência, teve aumento de 71%
entre 2010 e 2018.
Infográfico mostra o número de bolsistas do
Prouni de 2010 a 2018, período que teve alta de 71% nos beneficiados em cursos
que não são voltados à docência — Foto: Elida Oliveira/G1
Íntegra da nota do Ministério da Educação
"De acordo com o Art. 5º da Lei 11.096 de 13 de janeiro de
2005, que institui o Programa Universidade para Todos (Prouni), a instituição é
obrigada a conceder bolsas em todos os seus cursos/turnos.
Como ocorre uma expansão de
vagas ofertadas em EAD em todo o país nos últimos anos, isso se reflete no
Prouni. De acordo com o levantamento do Exame Nacional de Desempenho dos
Estudantes (Enade) de 2018, não houve queda na qualidade da educação nos cursos
de Ensino a Distância.
Na edição de 2018 do Enade, 8.821 cursos foram avaliados de um total de 1.791
instituições de educação superior públicas (227) e privadas (1.564), nas
modalidades presencial e a distância. Nesse caso, 21% dos cursos presenciais e
10% a distância tiveram conhecimentos agregados para além do projetado."
Fonte: G1 acessado em 15 de
outubro de 2019