Ideb da rede pública tem 60,4% dos municípios abaixo da meta no 9º ano
Em 2011, este índice era
de 37,5% dos municípios na rede pública. Ideb melhorou em 56% das cidades, mas
nota ficou abaixo do esperado.
Municípios e a
evolução da meta
Desde
2009, nº de municípios que consegue atingir a meta do Ideb na rede pública tem
sido cada vez menor
O novo Índice de desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostra que a
rede de escolas públicas do Brasil têm cada vez mais dificuldade de atingir as
metas de qualidade educacional determinadas pelo governo. Embora 56% das
cidades tenham melhorado a nota do Ideb em relação à edição anterior,
60,4% dos municípios ficaram abaixo da meta estabelecida pelo Ministério da
Educação para cada um deles para a rede pública, que inclui as escolas municipais,
estaduais e federais (veja no gráfico ao lado).
Segundo
levantamento feito pelo G1 com base nos
dados oficiais divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 3.244 dos 5.369 municípios com Ideb e meta
calculados para 2013 ficaram aquém do esperado. Esse montante é 22,9 pontos
percentuais mais alto do que na edição de 2011, quando a rede pública de 37,5%
dos municípios ficou abaixo da meta.
Em relação a
2009, a quantidade de municípios abaixo da meta aumentou 36,6 pontos
percentuais. Os números equivalem à média das escolas municipais, estaduais e
federais localizadas em cada municípios. A base total para o cálculo varia de
ano a ano porque nem todos os municípios têm o Ideb calculado em todas as
edições.
O fato de que
quase dois terços dos municípios não terem atingido a meta em 2013 não quer
dizer que o Ideb deles piorou: na verdade, em 56% dos municípios o Ideb 2013
foi mais alto que o de 2011. Em 10% dos casos, o índice permaneceu igual e, em
34%, ele caiu.
O levantamento
mostra, porém, que as redes não estão evoluindo no ritmo esperado para que o
Brasil atinja, em 2021, a meta de qualidade na educação definida pelo governo
federal a partir de 2007, no segundo ano do cálculo do Ideb.
Impacto
reduzido
Em entrevista coletiva na tarde desta sexta,
o ministro da Educação, Henrique Paim, afirmou que
a expectativa era de que a melhoria dos anos iniciais do ensino fundamental
impactariam positivamente nos anos finais e no ensino médio. "A partir da
melhoria dos anos iniciais do ensino fundamental, teríamos uma onda e uma
alteração importante nos anos finais e no ensino médio. O que estamos vendo é
que essa onda acaba chegando, mas não no ritmo necessário, o impacto dessa onda
é mais reduzido", explicou ele.
Segundo o
ministro, parte das razões para o resultado aquém do esperado nos anos finais
do fundamental e no ensino médio está na complexidade da gestão das escolas
desse nível, que são maiores e têm mais professores, sendo que muitos dão aulas
em mais de uma escola.
O Ideb leva em
conta dois fatores que interferem na qualidade da educação: rendimento escolar
(taxas de aprovação, reprovação e abandono) e médias de desempenho na Prova
Brasil. A expectativa para os últimos anos do ensino fundamental na rede
pública, referentes ao 6º, 7º, 8º e 9º anos, é de que o índice chegue a 5,2
pontos no ano de 2021. Em 2013, o Ideb alcançado pela rede pública neste ciclo
de ensino foi 4,0, abaixo da meta projetada para o ano de 4,1.
'Choque de realidade'
Para Ernesto Martins Faria, coordenador de projetos da Fundação Lemann, os números do Ideb 2013 devem servir como um "choque de realidade", e provocar uma reflexão sobre o impacto das ações e mudanças estruturais no sistema educacional que deixaram de ser feitas nos anos anteriores. "Uma hora a meta ia subir e a gente tinha que estar preparado", afirmou ele ao G1. "Os avanços já se mostravam pequenos em 2011, mas com o não cumprimento da meta para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio temos agora o choque de realidade."
Para Ernesto Martins Faria, coordenador de projetos da Fundação Lemann, os números do Ideb 2013 devem servir como um "choque de realidade", e provocar uma reflexão sobre o impacto das ações e mudanças estruturais no sistema educacional que deixaram de ser feitas nos anos anteriores. "Uma hora a meta ia subir e a gente tinha que estar preparado", afirmou ele ao G1. "Os avanços já se mostravam pequenos em 2011, mas com o não cumprimento da meta para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio temos agora o choque de realidade."
Faria explica
que a curva da meta do Ideb pressupõe que, no início, é mais difícil conseguir
uma evolução nos resultados, mas a execução de "ações estruturantes"
é chave para que o desempenho melhore com o passar dos anos. "A gente vai
conseguir subir de forma mais rápida se no início faz ações estruturantes. A
gente fez poucas e está sentindo agora."
Ele citou como
exemplo positivo a rede estadual de Goiás, que elaborou um pacto com 25
estratégias, incluindo a realização de concursos anuais de contratação e
remuneração acima do piso nacional e da média estadual para professores, além
de premiação por mérito de professores e alunos, investimento no ensino em
tempo integral e na reformulação do currículo do ensino médio. Em dois anos, a
rede melhorou o Ideb em todos os níveis: nos anos finais do fundamental, o
índice subiu de 3,9 para 4,5, o maior crescimento nesse nível de ensino em todas
as UFs. "O bom resultado de Goiás a partir desse pacto mostra que é
importante investir em mudanças estruturais", disse ele.
A gente está vendo no Brasil, na prática, que
simplesmente colocar o aluno na escola não garante aprendizagem"
Denis Mizne,
diretor executivo da Fundação Lemann
Mito derrubado
Para Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, o índice divulgado nesta sexta serve para desfazer o mito de que bastava universalizar o ensino e colocar as crianças na sala de aula. "A gente está vendo no Brasil, na prática, que simplesmente colocar o aluno na escola não garante aprendizagem. Então, uma geração toda passou 12 anos na escola e vai chegar [no fim] com um rendimento muito baixo."
Para Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, o índice divulgado nesta sexta serve para desfazer o mito de que bastava universalizar o ensino e colocar as crianças na sala de aula. "A gente está vendo no Brasil, na prática, que simplesmente colocar o aluno na escola não garante aprendizagem. Então, uma geração toda passou 12 anos na escola e vai chegar [no fim] com um rendimento muito baixo."
O gerente de
conteúdo do movimento Todos pela Educação, Ricardo Falzetta, diz que os
resultados do Ideb 2013 não surpreendem. Eles considera que os anos finais do
ensino fundamental (do 8º e 9º ano) é uma etapa esquecida. "Acreditou-se
que ao resolver os problemas do início [dos anos iniciais do ensino fundamental,
onde houve avanço] melhoraria o resto, mas é preciso um olhar específico para
os anos finais do fundamental. É uma mudança importante na vida da criançada
que está entrando na pré-adolescência." O gerente lembra que nesta fase já
ocorre a evasão, muitas vezes provocada pela reprovação, o que se agrava no
nível seguinte, o ensino médio.
"Não há
solução mágica, mas é necessário entender que a educação exige um cenário com
muitas variáveis: formação de professores, valorização do magistério, a questão
das novas tecnologias. Várias frentes precisam ser atacadas ao mesmo tempo, é
preciso esquecer essa história de 'bala de prata'."
Mizne lembra
que, no Brasil, os governos, as organizações da sociedade civil e o setor
privado têm debatido e trabalhado muito para melhorar a qualidade da educação,
mas há pouco foco para tirar do papel as medidas essenciais de aprendizagem
para que esse trabalho seja traduzido em resultados positivos. "É mais
fácil ficar discutindo quanto do PIB se quer gastar em educação do que quais
são as práticas de professores que melhoram o ensino, ou como a gente aumenta a
qualidade dos materiais que chegam nas mãos dos alunos. Falta um objetivo
claro: o que a gente espera dos alunos? O que quer que eles aprendam? A gente
ainda não fez isso no Brasil", explicou ele.
Mizne diz que a
Base Nacional Comum, proposta de definição dos conteúdos de aprendizado
esperados incluída no Plano Nacional da Educação, é um passo na direção desse
foco, mas é preciso que ela seja feita com clareza, incluindo professores e
pais.
Ernesto Martins
Faria explica que os resultados negativos de 2013 não podem ser um indicativo
de que o Ideb está errado. "O que esperamos é que não culpemos o
termômetro (a ambição das metas) e que façamos a reflexão sobre as mudanças
estruturais que precisamos, como a Base Nacional Comum."
Segundo o
ministro Henrique Paim, o PNE determinar que o MEC tenha o papel de coordenador
da construção dos direitos e objetivos de aprendizagem. "O MEC terá que
definir a Base Nacional Comum, temos que criar um fórum onde os estados e
municípios, com a União, vão definir como serão os trabalhos dessa base."
Veja as notas do Ideb 2013 no ensino médio em todos
os estados
São Paulo teve o maior
desempenho no total com índice 4,1.
Goiás se destacou na rede estadual, e Santa Catarina na rede particular.
Goiás se destacou na rede estadual, e Santa Catarina na rede particular.
São Paulo foi o
estado que apresentou o mais alto Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para o ensino médio segundo dados de 2013
divulgado nesta sexta-feira (5) pelo Ministério da Educação. O Ideb de São
Paulo foi de 4,1 pontos, considerando as redes públicas e privadas. Em seguida
aparecem Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina, com Ideb
4,0.
Já na rede
estadual, Goiás teve o melhor desempenho no ensino médio, com Ideb 3,8. Em
seguida aparecem Rio Grande do Sul e São Paulo, com 3,7.
Na rede
privada, o maior desempenho foi de Santa Catarina, com 5,9 pontos, seguido por
Minas Gerais, com 5,8.
VEJA ABAIXO AS NOTAS DO ENSINO MÉDIO DO IDEB POR ESTADO
Nota do Ceará no ensino médio tem queda e fica abaixo da meta do MEC
Ensino público
superou meta no ensino médio e fundamental.
No ciclo final do Ensino Médio, nota geral do Ceará caiu de 3,4 para 3,3.
No ciclo final do Ensino Médio, nota geral do Ceará caiu de 3,4 para 3,3.
A nota do Ceará no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ficou abaixo da meta estabelecida
pelo Ministério da Educação no Ensino Médio. A nota no ciclo final do Ensino Médio caiu de 3,4 para 3,3, de 2011 para 2013, no
ensino público. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (5) pelo Ministério
da Educação.
Na rede
estadual, a nota geral do ensino médio subiu de 3.7 em 2011 para 3.9 em 2013 e
bateu a meta do ministério em 2013, de 3.6. Na rede privada, a nota do ensino
médio foi de 5.8 em 2013, contra nota 5.7 em 2011, abaixo da meta de 6,3.
No ensino
fundamental, a nota geral foi de 5.2 em 2013, acima da meta, de 4.3.
Considerando o ensino público, o desempenho foi de 5 em 2013, com meta de 3.9.
No ensino privado, a nota média foi de 6.1 em 2013 e ficou abaixo da meta de
6,4.
O secretário de
Educação do Ceará, Maurício Holanda, acredita que a queda apresentada nas
escolas privadas do Ceará ocorreu por um desvio de amostragem. “As provas são
feitas em algumas escolas, e temos um erro amostral. A amostragem pode fazer a
prova em uma escola mais competitiva em um ano e uma escola menor no ano
seguinte”, diz.
Em relação à
nota nas escolas públicas, o secretário afirma que a variação de 0,1 ponto é
pequena, e também pode ser uma oscilação dentro da margem de erro. “Houve uma
queda de 1 ponto, isso representa menos de 3% de variação, isso está dentro da
margem de erro de uma amostra, isso não nos perturbou”, diz. O secretário
destaca ainda que o índice estadual para avaliação da educação, que avalia
todas as escolas, revela um crescimento no nível educacional do estado.
O Ideb é um
indicador geral da educação nas redes privada e pública. Foi criado em 2007
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep) e leva em conta dois fatores que interferem na qualidade da educação:
rendimento escolar (taxas de aprovação, reprovação e abandono) e médias de
desempenho na Prova Brasil, em uma escala de 0 a 10.
O presidente do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Francisco
Soares, explicou o fato de o Ideb Brasil 2013 para o ensino médio ter se
mantido estável em 3,7: “Por que ficou estável? Porque melhoramos um
componente, melhoramos o componente de rendimento”, disse ele.
De acordo com
os dados do governo, o indicador de rendimento (o cálculo da taxa de aprovação,
de reprovação e de abandono) subiu de 0,80 para 0,82. Já a nota média
padronizada mostra que o desempenho dos alunos na Prova Brasil, com uma queda
de 4,57 para 4,44. A meta do Ideb Brasil para o ensino médio, porém, é 3,9.
Fonte: G1 acessado em 06/09/2014 às
08h 54 min